Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso

Em seus 4 anos de existência, de 2017 a 2020, o Coletivo Quariterê já organizou quatro (04) Mostras de Cinema Negro em Mato Grosso. Foram exibidas nessas mostras, cento e quatro (104) obras audiovisuais selecionadas, tendo sido inscritas mais de 486 obras oriundas de todo o Brasil, com um público espectador de mais de duas mil (2000) pessoas, no total . Em três das quatros edições da Mostra contamos com a participação de Adélia Sampaio e Joyce Prado (2018), Celso Prudente (2019) e Jeferson De (2020) homenageados pelo compromisso e relevância com o debate racial na sétima arte nacional.

 

Foto: Divulgação da IV Mostra, última edição presencial realizada em 2019


Histórico

Em 2016, uma ação da Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso chamou a atenção de profissionais afrodescendentes atuantes na produção cultural e audiovisual, como também de vários/as ativistas dos movimentos sociais negros do estado, ao propor a realização da I Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso marcada para acontecer no mês da Consciência Negra, em novembro de  2016. 

A questão que chamou a atenção naquela época foi a organização da I Mostra de Cinema Negro do Estado ter sido pensada, planejada e protagonizada por uma produtora local onde todas as pessoas envolvidas no processo eram brancas. Tal fato não surpreende vindo de um setor hegemonicamente branco, cis, heteronormativo e elitizado. 

Foto: Divulgação da II Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso.


Mas como agravante da situação, os convidados para compor as mesas e palestras eram majoritariamente pessoas brancas, que se propunham a discutir narrativas e experiências negras, em  filmes repletos de representações estereotipadas, objetificadas e subalternizadas. As atividades “formativas” formuladas com o título: “Deu Branco”, assim como toda a produção da Mostra, teve como justificativa ter sido desenvolvida dessa forma o argumento de que não havia no Estado de Mato Grosso profissionais negros no setor audiovisual aptos para debater os temas.

A soma desses fatos despertou a indignação, gerou protestos nas redes sociais que contaram com apoio de diversas lideranças do movimento negro, especialmente impulsionadas por profissionais negros do setor cultural da cidade de Cuiabá, que exigiram da Secretaria de Cultura do Estado retratação e providências para solucionar a questão. 

Foto Divulgação da III Mostra realizada pelo Coletivo Quariterê e apoiadores.

A soma desses fatos despertou a indignação, gerou protestos nas redes sociais que contaram com apoio de diversas lideranças do movimento negro, especialmente impulsionadas por profissionais negros do setor cultural da cidade de Cuiabá, que exigiram da Secretaria de Cultura do Estado retratação e providências para solucionar a questão. 

Diante da situação, a I Mostra de Cinema Negro foi suspensa, houveram muitas reuniões e por fim, ocorreu uma reorganização após muitos debates. Naquele momento a SEC-MT acatou que era necessário tratar das temáticas e pautas raciais contando com a experiência de profissionais e os argumentos de pessoas que vivenciam na pele estas questões, por isso, possuem propriedade argumentativa. Diante disso, foram convidados  profissionais negros para compor a equipe organizadora da I Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso que foi realizada cerca de 20 dias após o Dia Nacional da Consciência Negra. 

Foto: O público da IV Mostra oferecendo o voto aos melhores filmes da noite.

Atualmente sob a organização do Coletivo Audiovisual Negro Quaritere, a  Mostra em Mato Grosso chega a sua 6ª edição por intermédio da parceria com o Instituto de Mulheres Negras – IMUNE/MT, Coletivo FavelAtiva e Secretaria de Estado, Cultura, Esporte e Lazer e propõe como tema no ano de 2022, o Afrofuturismo.

A proposta do Afrofuturismo é na aposta da necessidade de criação de novas utopias através da apresentação de imaginários constituídos e formulados através da arte, no caso, o cinema como dispositivo de desenvolvimento da projeção da possibilidade de existência de um lugar seguro para as populações negras, tecendo assim a radicalidade existente na capacidade de sonhar.

Foto Divulgação do Documentário premiado pelo Júri Oficial da V Mostra.

A Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso é reconhecida nacionalmente: está presente no Mapa Difusão do Cinema Negro no Brasil, citada em inúmeras pesquisas e artigos como da cineasta, professora, pesquisadora Edileuza Penha e divulgada em portais referenciados como o abcine, entre inúmeras outras evidências de sua importância .